Sobre Evidências Científicas

04/12/2024

INTRODUÇÃO

A ciência surgiu como uma necessidade humana de entender o seu entorno, a natureza, os planetas...

No início, era pautada apenas por observações e explicações místicas e religiosas; depois surgiram os grandes filósofos, que tentavam explicar o mundo com base em teorias que eram fundadas também em observações, mas usando a lógica. Até aqui, nada era colocado à prova.

Foi entre os Séculos XVI e XVII que aconteceu a chamada REVOLUÇÃO CIENTÍFICA, marcada por uma transformação radical tanto na forma de pensar quanto no modo como o conhecimento sobre a natureza era adquirido e compreendido. Foi nesta fase que começaram os experimentos, e seu pioneiro mais famoso foi Galileu Galilei...

Isto posto, é importante dizer que hoje em dia há toda uma metodologia científica e existem vários tipos de evidências científicas, tipos baseados em observaçõestipos baseados em experimentos, tipos baseados em teorias etc.  

Vamos explorar 7 tipos de evidências científicas, em ordem crescente de importância, para que você entenda por que, em alguns casos, apresentar uma evidência pode não significar absolutamente nada!     

 


EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS


1. OPINIÃO DE ESPECIALISTAS

É quando um profissional com título(s) acadêmico(s) diz o que acha de um certo assunto, sem necessariamente referenciar suas conclusões. É por causa disso que você ouve afirmações começadas com "mas o Dr. Fulano disse…", "Mas a nutri tal falou…", "mas ele tem doutorado", "mas ela é mestre em tal coisa"...

Por que a opinião de especialistas é limitada como evidência científica?

  1. Subjetividade: A opinião de especialistas pode ser influenciada por vieses pessoais ou limitações no acesso a dados completos.
  2. Falta de validação experimental: Sem suporte de estudos empíricos, opiniões podem ser hipotéticas ou incompletas.
  3. Conflitos de interesse: A experiência ou visão de especialistas pode ser influenciada por interesses financeiros ou institucionais. 

O especialista pode ter o maior currículo acadêmico do mundo, mas sua opinião é NÍVEL BAIXÍSSIMO de evidência científica e não deve ser aceita como uma verdade absoluta!  


2. ESTUDOS IN VITRO

Experimento realizado fora de organismos vivos, em ambientes controlados, como laboratórios, frequentemente utiliza células, culturas de tecidos ou modelos biomoleculares (como proteínas ou DNA), e foca em processos específicos sem interferências sistêmicas de um corpo vivo.

Limitações: Embora os estudos in vitro sejam fundamentais para entender MECANISMOS biológicos em detalhes, suas limitações incluem a incapacidade de replicar completamente as interações complexas de um organismo vivo. Por isso, são complementados por estudos in vivo.


3. RELATO DE CASO

Refere-se a informações derivadas de estudos de caso ou séries de casos, que documentam observações detalhadas de uma ou algumas ocorrências específicas envolvendo pacientes ou situações clínicas.

Na pirâmide de evidências, os relatos de casos estão na base, sendo considerados de baixo nível de evidênciaIsso ocorre porque:

  • Não possuem grupo de controle ou randomização.
  • Estão sujeitos a viés de seleção e generalização limitada.
  • Não podem estabelecer causalidade, apenas associações.


4. EXPERIMENTO EM MODELOS ANIMAIS

Refere-se ao uso de animais para investigar processos biológicos, desenvolver e testar medicamentos, ou compreender mecanismos de doenças antes de aplicar os resultados em humanos.

Os animais utilizados (como camundongos, ratos, coelhos, zebrafish etc.) são escolhidos por terem características genéticas, fisiológicas ou bioquímicas semelhantes às dos humanos. 

Limitações: Embora modelos animais sejam usados por suas semelhanças com os humanos, diferenças significativas podem levar a resultados não diretamente aplicáveis. Exemplo: Medicamentos eficazes em ratos podem ser ineficazes ou até tóxicos em humanos.


5. ESTUDO DE CASO-CONTROLE

É um tipo de estudo OBSERVACIONAL feito a fim de investigar FATORES DE RISCO. Compara indivíduos com uma doença/condição (os casos) com aqueles sem a doença/condição (os controles) para identificar POSSÍVEIS fatores de risco ASSOCIADOS à doença/condição. 

Limitações:

  • Viés de memória: Os participantes podem não lembrar com precisão suas exposições passadas.
  • Viés de seleção: Escolher controles que não representem bem a população geral pode distorcer os resultados.
  • Causalidade difícil de estabelecer: O estudo só observa uma associação entre exposição e doença, mas não pode provar uma relação causal.


6. ESTUDO DE COORTE

É um tipo de estudo OBSERVACIONAL, que acompanha um grupo de indivíduos ao longo do tempo para observar a incidência de uma condição/doença, e examina a relação entre a exposição a um ou mais fatores de risco e o desenvolvimento dessa condição. 

O estudo de coorte começa com os participantes saudáveis e os segue para observar se desenvolvem a doença. Já o estudo de caso-controle começa com os indivíduos que já têm a doença (casos) e os compara com aqueles que não têm (controles).

Exemplo de estudo de coorte:

  • Objetivo: Estudar se a exposição ao álcool aumenta o risco de desenvolver doenças hepáticas.
  • Coorte: Um grupo de pessoas que consomem álcool regularmente (grupo exposto) e um grupo de pessoas que não consomem álcool (grupo não exposto).
  • Acompanhamento: Acompanhamento dos dois grupos ao longo de vários anos para verificar quantos participantes de cada grupo desenvolvem doenças hepáticas.

Limitações:

  • Custo e tempo: Como é um estudo prospectivo e envolve acompanhamento ao longo do tempo, ele pode ser caro e demorado.
  • Perda de seguimento (viés de perda de seguimento): Se os participantes abandonam o estudo ao longo do tempo, isso pode introduzir viés nos resultados.
  • Fatores de confusão: Variáveis não controladas, como hábitos alimentares ou fatores genéticos, podem influenciar os resultados e distorcer a associação entre exposição e doença.



PADRÃO OURO


7. ENSAIOS CLÍNICOS RANDOMIZADOS (ECR)

São estudos projetados para avaliar a eficácia e a segurança de intervenções médicas, como medicamentos, terapias, vacinas ou dispositivos, de maneira rigorosa e controlada.

Neste modelo, um número significativo de pessoas é sorteado (randomizado) para dois ou mais grupos e um destes grupos sofrerá uma intervenção (uma dieta, um tipo de treinamento, ou o uso de uma medicação) e o outro grupo servirá de controle (não haverá intervenção). 

Este tipo de estudo é capaz de inferir CAUSALIDADE, e não associação, como no caso dos modelos anteriores. 


7.1 Revisões Sistemáticas e Metanálises de ECR 

São métodos usados para sintetizar e analisar evidências científicas, neste caso, obtidas por meio de Ensaios Clínicos Randomizados.

Por mais que um ECR chegue a um resultado, aquilo pode ser real APENAS naquela população que foi testada. Uma revisão sistemática reúne 10, 20, 200, 367 (...) ECR e analisa os dados chegando à uma conclusão!

Exemplo: Uma revisão sistemática pode explorar todos os estudos sobre o impacto da dieta rica em fibras na prevenção do diabetes tipo 2, apresentando os resultados de cada estudo, mas sem combinar os dados quantitativamente.

Já a Metanálise é uma técnica estatística usada, muitas vezes como parte de uma Revisão Sistemática, para combinar quantitativamente os resultados de vários estudos individuais, gerando um único estimador (Por exemplo: risco relativo). 

Exemplo: Uma metanálise pode calcular o efeito combinado de uma dieta rica em fibras sobre a redução do risco de diabetes tipo 2, utilizando os resultados quantitativos de vários estudos.



CONCLUSÃO


Sempre que você encontrar um texto ou um profissional citando evidências científicas, entenda que isso POUCO significa! 

O mais importante é o tipo da evidência, ou seja, se alguém está afirmando, por exemplo, que NINGUÉM deveria tomar leite de vaca porque CAUSA inflamação, se esta pessoa não estiver apresentando Ensaios Clínicos Randomizados ou Revisões Sistemáticas/metanálises de ECR, tal afirmação não passa de ACHISMO ou CHARLATANISMO!